quarta-feira, 15 de abril de 2020

A moda nas festas após a Corona-Crise

Hellooooooo Psicoparty,


Tudo bem com você? 

Escrevi sobre isso algumas vezes aqui no Blog mas vez ou outra o assunto volta a tona com uma abordagem diferente. Desta vez, a corona-crise levantou uma discussão muito interessante no mundo da moda que eu acho que certamente vai refletir também no mundo das festas.

Já se fala muito em sustentabilidade e como essa pandemia vai mudar os costumes do mundo em relação ao consumo, hábitos e costumes e é inevitável que vá afetar se não para sempre, por um bom tempo, o mercado de eventos.

Se eu acho que o povo brasileiro vai deixar de fazer festas? Não, não acho! Se eu acho que a queda de poder aquisitivo de muitas famílias fará com que elas procurem outras maneiras de comemorar, sim acredito. Acredito que muito mais do que o fator "vontade" o fator "investimento" vai falar alto sim, mas que sonhos continuarão a existir e festas também.

Passado esse ponto, e pensando nas festas que irão acontecer... será que teremos também uma mudança no estilo de festas? Na "moda" das festas?

Fazendo um pequeno parêntese vou falar um pouco sobre mim e obviamente sobre as minhas festas.

Eu sou uma pessoa que não me ligo muito em moda. Nem de roupas, nem de acessórios para mim nem para minha casa. Sempre optei por peças coringas e duráveis. É meu isso! 

Mas sempre achei interessante o movimento da moda como um todo, e como a tendência funciona. Acho interessante como de fato as pessoas enlouquecem por uma peça diferente, uma novidade...

O estímulo a uma novidade libera no cérebro um substância chamada dopamina. Essa dopamina é a mesma substância liberada na ingestão de álcool, cocaína, nicotina ou Ritalina, por exemplo, ou em uma viagem ao um lugar novo. A dopamina é relacionada a uma recompensa e em pouco tempo o cérebro quer receber outras doses, cada vez mais altas. Assim sendo, podemos dizer que novidade vicia. E o que te surpreende hoje não irá surpreendê-lo amanhã e você precisará de doses cada vez maiores para se sentir realizado.

Vamos abir um parêntese!

A internet chegou ao Brasil em 1988, em 1991 já era utilizada por órgãos
governamentais e de pesquisa, mas apenas em 1995 foi liberada comercialmente no Brasil. Em 1996 surgem os primeiros portais no Brasil a ZAZ e a UOL. Nesse mesmo ano fizemos o nosso primeiro site, com fotos das nossas festas.

Me lembro que certa vez, uma cliente me mandou um e-mail solicitando orçamento e disse que descobriu a nossa empresa na casa do irmão em SP que lhe apresentou um site de buscas. Ele digitou "festas infantis, Vitória-ES" e nos encontrou. Ela morava na rua atrás na nossa loja mas sequer sabia da nossa existência. Desde esse dia eu entendi que nossas vidas nunca mais seriam as mesmas. Se antes pra ver uma novidade a gente esperava meses ou semanas pelo lançamento de uma revista nas bancas, agora, apenas com um clique era possível receber na sua casa todas os lançamentos.

De lá pra cá, muitos novos recursos aumentaram o poder da "propaganda" e da distribuição da novidade. Me recordo que ainda por volta de 2006-2010 se eu fechava uma festa de circo e postava uma foto de uma escultura no site na semana antes da festa de uma cliente daquele tema, ela me ligava na hora pedindo que incluísse aquela peça. Chegava a ser engraçado! 

Passamos então pelo Orkut em 2004, rede social da Google (quem plantou Bis?), superado em 2012 em quantidade de usuários no Brasil pelo Facebook. Já em 2016 as compras pela internet ultrapassam as vendas em lojas físicas e no mesmo ano os brasileiros ultrapassavam 75% dos usuários do Instagram, A disseminação da novidade tornou-se irrefreável. "Um vírus altamente contagioso!"

 Mas como isso mudou os eventos e influenciou na moda das festas infantis? 

Se antes você criava algo novo e essa criação demorava anos para chegar até os clientes, hoje ela é praticamente instantânea. E a facilidade em ver as novidades, não só na sua cidade, mas no mundo, torna o mercado cada vez mais exigente e insaciável. As clientes enjoam de tudo em semanas.

Nesse ponto há quem defenda como positiva essa demanda. Economicamente surge uma necessidade por coisas que não temos, com consequente produção de itens que nem sabíamos que precisávamos. Entra nossa amiga "lhama", seu amigo cacto e seu primo flamingo. Alguma criança algum dia (antes) te pediu uma festa com esses personagens? Pra mim nunca!

Se antes pensávamos em temas inspirados nos milenares contos infantis e seu universo lúdico, hoje seguimos tendências criadas por artistas que alimentam uma industria trilhardária. A industria da "tendência" onde tudo se torna obsoleto e ultrapassado em uma fração de segundo.

Você compra o ultimo modelo de I-Phone após uma longa fila de espera e antes mesmo de parcelar em 10x no seu cartão de crédito, outro modelo XS-Plus está sendo lançado ali no outro lado mundo. Somos hoje (e me incluo) uma geração de insatisfeitos buscando (ou mendigando) por mais, e mais, e mais, e mais, doses de dopamina. 

É aqui que vem o pulo do gato e a única hora que fico reflexiva a respeito do lado bom da famigerada corona-crise. Será que ela vai nos fazer refletir sobre isso? Será que voltaremos a olhar mais para dentro? Será que passaremos por um processo de redução do consumo desnecessário?

Vamos entender que não precisamos de tantos pares de sapatos, de tantas bolsas, do último modelo de celular para sermos felizes? Em matéria de festa, será que as pessoas voltarão a escolher o tema que te deixa feliz e que você acha que o seu filho irá amar ao invés de escolher o tema no Instagram da decoradora top de SP que tem 650 bilhões de seguidores? Será que vamos começar a seguir nosso próprio coração ao invés de seguir o que uma Blogueira quer te convencer que é bom pra nós?  

Se isso acontecer vamos poder voltar a criar da maneira mais genuína e livre que a palavra tem. Porque criar olhando referências não é criar... de verdade. É adaptar ideias de outras pessoas e seguir acreditando que de alguma forma aquelas ideias são nossas. E se a gente se der ao trabalho de pesquisar mais profundamente também não vai encontrar quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha.

Penso, de verdade, que a crise econômica que iremos enfrentar pode colaborar e muito para uma mudança geral de pensamento, graças a uma reflexão profunda de nossas reais necessidades. Claro que acredito em uma evolução na arte de "comemorar" mas nunca no fim desse comportamento tão nosso, tão brasileiro, de reunir pessoas.

No circuito da moda, essa mudança já está sendo sentida e anunciada por grandes estilistas. Veja o que disse Giorgio Armani: 

"O luxo não pode e não deve ser rápido. Não faz sentido que uma das minhas jaquetas ou roupas viva na loja por três semanas antes de se tornarem obsoletas, substituídas por novos produtos que não são muito diferentes. Eu não trabalho assim, e acho imoral fazê-lo. Sempre acreditei numa ideia de elegância atemporal, que não é apenas uma crença estética precisa, mas também uma atitude no design e na realização das roupas que sugere uma maneira de comprá-las: fazê-las durar." 

Armani faz uma crítica às lojas de departamentos e a sua política de "descartabilidade" e estímulo exagerado ao consumismo.

Lendo o artigo na íntegra me alegra pensar que talvez voltaremos a valorizar uma outra substância cerebral, a oxitocina. Conhecido como o hormônio do amor e dos laços afetivos, ligado a sensação de confiança e segurança que sentimos quando estamos ao lado de familiares e amigos. Hormônio liberado durante a amamentação, que estreita laços entre mãe e filho e também durante o abraço, que tanto nos falta durante a quarentena. 
É o "querer bem".

Então, meu desejo mais profundo durante essa pandemia é que ao final dela a gente entenda o que realmente nos importa e nos torna felizes e pare um pouco de achar que a grama do vizinho é mais verde que a nossa!

Que venham bons tempos!!! Onde o vício pela recompensa seja superado pelo vício do amor!

Com amor,
Mary

*                        *                             *

Para saber mais:




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